12 outubro 2011


São em momentos como esse em que a boemia a atrai.

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 A sensação de dormência é a única que a seduz agora e entorpecer-se além dos limites é o que ela mais deseja fazer. O que ela quer é extravasar. Dança com desconhecidos, fala bobagem e beija-os sem desejo. Ela pensa que perder o controle pode ser uma forma de desmascarar-se e mostrar o que é no íntimo. Sedenta, bebe gim e se afoga no absinto como se o mundo fosse acabar naquele momento. Corre e tenta fugir da vista de todos. (Fugir dos problemas, do medo, da dúvida e da vida).
Capturam-na e a levam para casa. No amanhecer do dia ela chora no chão da cozinha e borra o rosto com maquiagem, na tentativa se secar as lágrimas. Grita, bate os pés, morde a si mesma. Perguntam-na: “Onde foi parar sua sanidade, garota?”. Com muito esforço ela consegue se por de pé e com passos apressados vai ao próprio quarto. Abre o guarda-roupa e joga tudo no chão. Puxa as gavetas com uma força desconhecida até que encontra o que precisava. Corre pro banheiro, lava o rosto e se olha no espelho. Ela estava cansada de lutar e já não tinha paciência para esperar pelas respostas. Abre a boca, fecha os olhos e aponta a arma no céu da boca. Aperta o gatilho e a dor não é a que ela esperava.
Acorda atônita perguntando se deveria mesmo acordar, ainda mais num lugar como aquele. Levanta-se e analisa o modo como estava vestida. Blusa  e calça brancas, um tecido áspero. Ela já sabia onde estava. Senta no chão, abraça os joelhos dobrados e fica a observar o movimento dos dedos dos pés. Ergue a cabeça e olha sem angústia para a única minúscula janela, colocada alto suficiente para ser inatingível. É o único relógio que tem à disposição para marcar a passagem do tempo.


creditos: @yankamaia

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